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Valley: entrevista com a banda canadense que te transportará para a adolescência

  • Writer: Luana Murakami
    Luana Murakami
  • Feb 24, 2023
  • 6 min read

Updated: Mar 5, 2023

Durante minha adolescência eu fazia o cenário musical indie de terapia. Com Jesse Rutherford eu conversava sobre amor, com Florence Welch a depressão não conseguiria mais me alcançar, e com Mac Demarco eu encontrava a paz em meio a uma mente turbulenta. Recentemente ao escutar o som do grupo canadense Valley, o qual tive o prazer de entrevistar, recordei como era ter 16 anos.


No entanto, antes de me aprofundar na intimidade lírica e na melodia contagiante que provocam essa sensação nostálgica, é importante voltar em 2014 quando os integrantes se conheceram pela primeira vez, em um enredo digno de filme. O futuro de Rob Laska (vocalista), Mickey Brandolino (guitarrista), Alex Dimauro (baixista) e Karah James (Baterista) estava escrito nas estrelas. Esse encontro ocorreu quando suas antigas bandas foram acidentalmente marcadas para o mesmo horário em um estúdio de gravação local. Para eles, a palavra que definiria o que os uniu é "sorte":

“Tivemos a sorte de ser duplamente reservados em um estúdio em nossa cidade natal, sem amigos em comum e sem saber que o outro existia! Ouvimos o que cada um estava trabalhando, amamos a personalidade um do outro e acabamos passando todo o nosso tempo juntos, sem parar a partir daquele momento!”


Essa sintonia desde o primeiro dia é perceptível e é o que faz Valley ser tão especial. Você consegue sentir o quanto eles se divertem e são apaixonados pelo que fazem. Inclusive, quando perguntei sobre o processo de transformar quatro pessoas com mentes, estilos e influências diferentes num único som, eles reafirmaram essa conexão:

“Acho que tudo o que nos torna diferentes, é o que nos torna mais fortes e únicos como grupo. Preenchemos as lacunas com os aspectos que cada um de nós, como indivíduos, faz melhor. Temos um incrível senso de confiança um no outro e sabemos que cada um de nós dará o passo certo quando qualquer situação ocorrer. Isso acontece em todos os lugares, inclusive quando fazemos música juntos! “


O EP “This Room is White” lançado de forma independente em junho de 2016 já mostrava que o sucesso seria uma questão de tempo para a banda, a habilidade de criar músicas que são uma fusão de instrumentais magnéticos com letras genuínas sempre esteve presente. Entre elas, reconheço “Say” e “You” como minhas favoritas.

Na época do lançamento, Rob Laska explicou o conceito desse trabalho de uma forma bem cativante para deixar de mencionar:

"O ambiente para este EP pode muito bem ser uma sala branca, que aos nossos olhos representa uma ideologia clara, mas controlada e simples. Tudo está seguro em uma sala branca e quase nada parece fora do lugar. É um lugar seguro.

Toda a ideologia por trás desse EP é criar momentos dentro desse ambiente controlado e criar um momento musicalmente, emocionalmente – sem se importar com o resultado. Só queríamos sair. A sala pode representar a situação de qualquer pessoa. Não é necessariamente o problema, mas representa a segurança e a ideia de estar muito confortável. As pessoas gostam de segurança. É quando você assume riscos que você realmente sente algo mais.

As faixas de transição representam a ausência de não estar na "sala". Eles representam nossas longas viagens, nossa viagem ao acampamento, nossa viagem juntos a Nova York. As faixas são onde relacionamos nossos sentimentos com o mundo exterior, usando sons familiares externos sem realmente dizer nada. Decidimos adotar algumas novas abordagens com a produção deles também e realmente passamos dias e dias criando os sons exatos que ouvíamos em nossa cabeça enquanto eles envolviam as outras músicas do EP.”

Também, não posso falar de Valley sem abordar o hit “Like 1999”, que atualmente possui mais de 50 milhões de streams no Spotify e quase 2 milhões de visualizações no YouTube. É extraordinário e de certo modo irônico a mensagem primordial ser sobre desligar o telefone e ter uma conexão genuína com alguém; voltar para uma era em que a conexão humana ainda não tinha sido tomada pelo vício da era digital, quando o sucesso dessa faixa despontou no aplicativo TikTok. O que era para ser só mais uma sessão de escrita instantaneamente se transformou num vídeo viral ao postarem o refrão dessa música inédita que estavam produzindo, em questão de dias ultrapassaram 700.000 visualizações na plataforma.

Ademais, acredito que o fenômeno dessa canção se deve aos elementos que a compõem definirem a essência de Valley. “Like 1999” nos leva numa viagem de volta no tempo pelas uma letra repleta de referências aos anos 90 e principalmente pela sua sonoridade pop-acústica com riffs da guitarra reminiscentes as trilhas sonoras de TV e filmes que marcaram gerações no passado .


No decorrer da nossa entrevista, dei ao grupo a árdua missão de escolherem a canção com maior significado para eles:

“Acho que deveríamos datar Last birthday como uma de nossas composições mais importantes. Tem uma mensagem tão forte que todos nós apoiamos unanimemente, e tem algumas das nossas melodias favoritas que já escrevemos. Também foi muito divertido escrever essa música com Ashe, ela é uma grande presença e acho que não teríamos conseguido essa música sem ela.”

A música é sobre um amor incondicional, sobre aquela pessoa que você pode confiar até seu último aniversário, “a Thelma da sua Louise “(segundo Karah). Seja no companheirismo ou de um jeito romântico. Porém, o que me mais chama atenção nessa obra é o seu lado realista: algumas vezes esse amor não é recíproco, a possibilidade de passar sua vida buscando amor dessa pessoa.

Outro single que merece ser mencionado é “Champagne”, lançado em abril desse ano:

“Engraçado o suficiente, escrevemos Champagne na mesma época que “Like 1999”, mas seguramos a canção para que pudéssemos ter algo depois do nosso álbum “Last Birthday” para manter os fãs e nós satisfeitos enquanto escrevemos nosso próximo álbum. Inicialmente era apenas Karah, Alex e Mickey que escreveram naquele dia porque Rob estava doente, então, naturalmente, Karah cantou na demo inicial da música. Mas acabou soando tão bem que mantivemos assim!

Um dos grandes acertos que fez essa música se sobressair das demais foi aKarah assumir o controle vocal. Além de mostrar a versatilidade da artista, agregou uma nova camada ao som da banda por efeito de uma energia femininoa potente e refrescante. Desde o lançamento “Tempo” em 2021, os vocais da baterista já revelavam seu poder como cantora e os fãs perceberam isso pedindo mais músicas que o incorporassem.


Um dos grandes acertos que fez essa música se sobressair das demais foi ao deixar Karah assumir o controle vocal. Além de mostrar a versatilidade da artista, agregou uma nova camada ao som da banda por efeito de uma energia feminina potente e refrescante. Desde o lançamento de “Tempo” em 2021, os vocais da baterista já revelavam seu poder como cantora e os fãs perceberam isso pedindo mais músicas que o incorporassem.


Visto que são multifacetados de talento, os integrantes me contaram alguns de seus hobbies que de alguma forma acabam rejuvenescendo a criatividade do grupo:

“Acho que todos nós tentamos fazer coisas fora da banda que nos deixam animados e apaixonados. Nós sempre dizemos que você precisa VIVER, e experimentar a vida para poder voltar e fazer o seu melhor trabalho e ter coisas para escrever! Em termos de interesses específicos; Karah adora pintar e não há dúvida de que visualmente contribui para a nossa arte. Mickey adora andar de skate, Rob tem o talento oculto de um mágico, Alex adora beisebol, mas todos nós adoramos ver shows ao vivo!”


A partir da estética dos videoclipes e das postagens no Instagram é perceptível a relevância da identidade visual para os canadenses que sempre emanam muito estilo. Partes de uma indústria que costuma vender bandas baseadas na imagem, Valley expôs sua visão sobre se essa circunstância é um fator limitante na área artística:

Acho que, contanto que você pareça genuíno, é difícil dizer que todas as coisas que você faz para aumentar sua imagem o limitariam. As pessoas querem ver você! Colocar um rosto na música que encontramos ajudou muito nossa marca, e não acho que estaríamos onde estamos se não tivéssemos começado a mostrar nosso verdadeiro eu, o tanto quanto fazemos.”


Apesar de todo glamour decorrente desse mercado fonográfico bilionário que vem se modificando juntamente com os avanços tecnológicos, vemos que cada vez maiso foco dos investimentos vai para a ampliação da presença de artistas em plataformas digitais. Tais inovações revolucionaram o modo de consumir música e intensificaram a transformação de músicos e cantoras em grandes artistas, que precisam aumentar sua presença midiática para se adaptar ou até mesmo manter uma carreira estável.


Essas diretrizes e a ampliação da produção do mercado musical ocasionam, frequentemente, a exploração e sobrecarga nos músicos, fatores que levam a questionar o descaso da indústria musical em relação à saúde mental dos artistas. Sendo assim, estar cercado de um bom suporte familiar é primordial durante essa trajetória:

“Todos nós fomos tão afortunados por termos pais super solidários, especialmente pelo fato de que todos nós fomos para a faculdade de música ou produção musical. Definitivamente, há um ajuste de mentalidade que deve ser feito.”


Então, o que podemos esperar do futuro de Valley? Ao serem perguntados se teriam interesse de experimentar gêneros não convencionais para os próximos projetos, me deixaram ainda mais entusiasmada:

“Eu acho que nós realmente nos interessamos por tudo, então mergulhar um pouco mais fundo em cada gênero, possivelmente country e hip- hop pode ser legal? Quem sabe, talvez acabemos vendo algumas coisas selvagens no próximo álbum.”




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