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Ayra Starr: entrevista com a rainha do Afropop nigeriano

  • Writer: Luana Murakami
    Luana Murakami
  • Feb 23, 2023
  • 6 min read

Updated: Feb 26, 2023

O que é ser uma popstar? Quando se reflete sobre os ingredientes que imortalizam essas artistas revolucionárias da indústria, imediatamente pensamos na capacidade de Britney Spears, de fazer e ser um espetáculo.

É preciso, porém, escutar além dos palcos as vozes desses ícones femininos, que encararam a misoginia para inspirar uma geração de garotas a apreciar seu próprio valor.

Ser uma popstar é ser quem nos ensina, nos influencia, nos empodera. Assim como a entrevistada: Ayra Starr.


Oyinkansola Sarah Aderibigbe viveu numa infância musical. Sua mãe, ex-cantora, e seu irmão Dami, guitarrista e compositor, foram suas primeiras inspirações para seguir carreira nesse segmento. Crescendo entre Benin e Nigéria, a popstar sempre esteve exposta a várias culturas, o que foi essencial para influenciar sua visão de mundo e personalidade cativante.

Sonhando em ser cantora profissional desde os 10 anos de idade, começou cantando no coral da escola e escrevendo canções com seu irmão. Seu caminho ao estrelato sempre esteve escrito nas estrelas. Não obstante, ela se apresenta pelo nome de Ayra Starr:


“Eu precisava de um nome que pudesse carregar toda a potência que sempre sentir ser. Foi um processo bem estranho, porque não foi algo que escolhi conscientemente. Eu não acordei um dia e pensei "eu sou Ayra Starr", aconteceu gradativamente e não foi a decisão mais simples. Ayra significa alguém que é mente aberta, bem respeitada e também uma estrela. Então meu nome é Star Starr (Estrela Estrela).”


Aos 16 anos, começou sua carreira no universo da moda com a Quove Model Management, uma agência de modelos de Lagos, antes de decidir que a música era seu destino. Após fazer covers de artistas como AndraDay e 2Face no Instagram, ela postou sua primeira canção autoral "Damage” (atualmente intitulada de Toxic) em dezembro de 2019, despertando a atenção do chefe da Mavin Record Label, com quem assinou posteriormente.

Essa gravadora, que completou 10 anos em maio, pode ser considerada o lar dos talentos musicais mais emocionantes da África, com dezenas de prêmios, singles de sucesso e endossos de marcas. Repleta de talentos excepcionais que trazem à tona suas origens musicais, resultando numa mistura perfeita de produções de soul, hip-hop, R&B e afrobeat. Para Ayra, a Mavin Records é:

"minha família! É bom conviver com pessoas que genuinamente só querem o melhor para você, você não se sente sozinha. Eles levam o trabalho muito a sério, são apaixonados por isso, o que me inspira."


A canção Overloading (OVERDOSE) que conta com a participação da nova geração da gravadora (Mavins, Crayon, Ayra Starr, LADIPOE, Magixx & Boy Spyce) consegue transmitir esse sentimento familiar perfeitamente. A batida eletrizante e muito estilo explicam a projeção e dominância do gênero na indústria internacional, incluindo diversas colaborações com artistas como Justin Bieber e Drake. Entre suas parcerias, a talentosa nigeriana lançou recentemente “Jane” com Skip Marley, e regravou seu maior sucesso “Bloody Samaritan” com uma das integrantes do grupo Destiny's Child: Kelly Rowland.


“Jane” é especial por sua melodia alegre, pela química musical impactante, e principalmente pelo videoclipe emocionante que te leva a uma viagem pela cultura jamaicana.


Já seu hit “Bloody Samaritan” alcançou o topo do TurnTable Top 50 da Nigéria, tornando Ayra Starr a primeira artista feminina na história a alcançar o número um com uma música solo. Fora da Nigéria, a canção disparou nos Charts do Reino Unido. Com vocais poderosos, acredito que o sucesso da música se deve à sensação de libertação proporcionada ao escutá-la. Não importa se você estiver tendo um dia ruim, aumente o som e dance, dance para si. Durante nossa entrevista Ayra a definiu como sua composição mais desafiadora até agora:

" Eu tinha essa batida por seis meses e não sabia o que fazer com ela, mas eu gosto de desafios, eu gosto de ser capaz de não saber o que fazer e ir tentando. Bloody Samaritan foi como terapia, eu estava no estúdio, algumas coisas estavam me irritando e eu pensei: "quer saber, ninguém vai matar minha vibe."

Entre suas composições," DITR" é uma de suas canções que tocam minha alma, uma letra extremamente intensa sobre dores que também compartilho. Nela Ayra expôs suas próprias angústias:

"Eu escrevi essa música com o intuito de me lembrar de onde eu vim, essa era minha música. Eu lembro que escrevi quando estava imaginando o que poderia acontecer se eu me perdesse, essa é a música que manterá meus pés no chão. Eu botei meus medos nela, porque desapontar minha família é o maior deles. E as pessoas que estão destinadas a ouvir essa música são especiais porque ela não é uma das mais populares, então eu sinto que Deus me fez escrever essa música para certas pessoas. Se você escutou essa música, era porque você deveria escutá-la.”


E se pudesse definir sua música para quem nunca a escutou antes? "Eu gosto de fazer música que faz as pessoas sentirem, seja elas se sentirem poderosas ou emocionadas."


Quando perguntada sobre o fator que faz o cenário musical nigeriano se destacar dos demais países africanos, a cantora não poupou elogios ao seu povo:

" Eu sinto que os nigerianos são geralmente pessoas muito criativas, com muita garra. Quando fazemos algo, sempre fazemos muito bem-feito. A música nigeriana estar explodindo internacionalmente fará a música africana em geral estourar, abrirá muitas portas para todos os gêneros africanos."


Atualmente, Ayra é um dos nomes mais importantes da música africana, dedicando-se para difundir seus ritmos e suas linguagens nativas em suas obras cantando em inglês, inglês pidgin e iorubá. Ela também faz um belíssimo trabalho ao inspirar meninas pretas com seu empoderamento.

Durante um período da adolescência, chegou a questionar sua trajetória na música ao perceber as desigualdades de gênero na indústria musical da África Ocidental: artistas masculinos podiam cantar sobre assuntos como vício, enquanto mulheres que abordavam sobre o mesmo assunto em suas letras não recebiam a mesma “tolerância”.


Sendo assim, chegou a cogitar a ser empresária do seu irmão, porém sua mãe não a deixou desistir de seu sonho. Esse apoio essencial sempre esteve presente na vida da Fashion Killer:

“Eu cresci podendo me expressar do jeito que me vestia, sempre foi algo importante para mim, estilo próprio é uma forma de arte e de se expressar. Meus pais sempre me permitiram me expressar através das minhas roupas. Mas o jeito que me visto agora não é jeito típico que uma garota nigeriana se veste, o jeito que garotas africanas "deveriam se vestir". Eu faço o que me faz "the baddest"(a mais descolada)".


Com apenas 20 anos, a cantora já acumula quase três milhões de seguidores e realizou o lançamento do seu primeiro álbum “19 & Dangerous”. Uma obra que te leva ao mundo de magia, determinação e confiança de Ayra ao demonstrar o fenômeno cultural que está destinada a ser. Através de um AfroPop enérgico e cheio de personalidade, Starr divide seu projeto em três fases, que ela intitulou de “Selvagem e Livre” (Wild & Free), “Vulnerável” (Vulnerable) e “Autoconfiante” (Self-assured), com cada ciclo revelando uma faceta diferente de sua jornada.


A faixa que sou perdidamente apaixonada é “Beggie Beggie” com a colaboração do cantor, compositor e produtor musical nigeriano de 27 anos: Ckay. Essa é uma das músicas em que Oyinkansola se permite ser vulnerável com vocais que tem o poder de curar. “Beggie Beggie” é feita para o coração. Para a revista Complex, a artista revelou que “não é apenas uma música triste - é também sobre uma jovem vendo as coisas como elas reamente são."


Recentemente, Starr está deslanchando nas paradas com seus novos singles “Rush” e "Sability". Mais uma vez somos contagiados com um som viciante e muita destreza vocal, e também é interessante reparar na história cantada: ela é uma “Sabi Girl” (expressão nigeriana traduzida para jovem e graciosa) de poucas palavras que está se conscientizando de seu papel na construção da história da música pop contemporânea, rompendo a política de respeitabilidade performativa que se espera dos recém-chegados à indústria da música.


Apesar de todo o glamour da fama e sucesso, lidar com ambos em tempos da Era digital é bem mais complexo. Ayra me relatou como lida com sua saúde mental:

"Eu tiro um tempo para mim quando preciso, as pessoas podem no entender, mas é muito importante tirar um tempo do que te faz sentir triste, depressiva. Eu também sou uma pessoa muito espiritual, eu rezo, leio minha Bíblia e sempre tento me apegar às coisas que me fazem felizes. Você não precisa viver da forma que a sociedade quer que você viva, viva da forma que Deus como criador orquestrou para você. Eu sei que pode soar estranho agora, mas confie em mim que é o único jeito que você encontrará paz genuína."


A jovem também se abriu sobre seus próximos planos: “No momento eu só quero viver o máximo que eu puder, eu ainda sou nova, preciso aproveitar a vida, ter histórias para cantar sobre, viajar o mundo performando, e ser humana.”



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